Rio Branco é uma cidade peculiar. Nos últimos anos, tem se notado o surgimento de quatro segmentos básicos presentes na sociedade, os
evangélicos, os
gays, as
lésbicas e os
petistas.
Bem, seguindo essa linha de pensamento, cheguei a algumas conclusões que a maioria das pessoas haverá de concordar que são verdades óbvias e elaborei uma pequena cartilha com os dez mandamentos dos que se aventuram por essas felizes (e coloridas) terras de arquitetura de gosto duvidoso que tenta imitar traços europeus.
1º - Não tente entender as antíteses criadas pelos nativos locais.
Por mais contraditório que seja, as pessoas em Rio Branco não tratam com recíproca o simples ato de desejar bom dia e afins, tem o descaramento de se acharem receptivas e consideram fortes candidatos a psicopatas aqueles que nasceram e moram aqui e que têm esse hábito saudável. Por outro lado,
"abrem as pernas" (no caso de algumas acreanas literalmente) pra primeira pessoa que fala
manaushhhh ou
poirrrrrr quê. Não sei como a sociologia chama isso, mas eu chamo de
xenofobia inversa.
Há ainda a cultura da externalidade. É comum ver os povos locais trocarem de
"carruagem" todos os anos, mas os mesmos vivem em um apartamento de 60 M² que compraram em 30 anos pelo sistema público de habitação. Essas mesmas pessoas gastam todo o seu salário em roupas compradas em boutiques caras locais (que por sua vez compram suas mercadorias em grandes centros do Brasil, como a 25 de Março), mas a partir do dia 10 de cada mês precisam recorrer ao limite do cheque especial pra cobrir despesas pessoais, já que o salário se foi quando o cidadão comprou aquela calça linda da
Diesel por
R$1200,00 mas ainda não se acostumou a viver sem comer só pra pagar a calça.
2º - Se acostume com a programação de entretenimento local.Se você é do tipo que adora espetáculos culturais com atores renomados no cenário nacional, apresentações musicais com cantores(as) que não ganham a vida rebolando ou mostrando o tórax definido por academia, adora festas temáticas, preza por variedade de escolhas no que se refere a lazer, nunca venha a Rio Branco. As pessoas aqui têm o estranho hábito de se reunir nos finais de semana em torno de uma vala, ligando o som de seus carros e deixando como trilha sonora músicas de
[ironia] extremo bom gosto [/ironia], como funk, forró e dance-comercial-europeu. É bem verdade que surgiu uma boate e uma pizzaria que atendem a certos quesitos no que se refere a qualidade, mas pra você que não tem nenhum amigo que te ofereça cortesia e mesmo tendo, não gosta de ambientes
"calientes", nem tem R$400,00 pra gastar em um jantar numa noite por uma pizza e meia dúzia de batidas com álcool, as opções ainda são bem restritas, quando o assunto é diversão.
3º - Não entre em choque contra as forças dominantes locais.A menos que você esteja só de passagem e não pretenda fazer parte da
"high society" local, não vá de encontro com o pensamento dos poderosos locais. Tudo bem, eles nem são tão poderosos assim, mas têm um
complexo de Galvez, e acham que todos têm que estar a seu dispor sempre. O mais irônico, é que essa pseudo-elite local é formada por gente que ganha a vida no serviço público, com salários fixos, mas que fazem parte do time que citei no primeiro mandamento, daqueles que não têm onde cair morto mas andam com uma calça
Calvin Klein e uma camiseta
Armani dentro de um
Corolla comprado em suaves 72 prestações. Porém, se seu objetivo é fazer parte dos super antenados que são fotografados em alguma festa e tem sua figura pateticamente exposta na coluna social de algum jornal
[ironia] de alta patente [/ironia], então entre pros grandes movimentos organizados locais, seja da
Igreja Batista do Bosque, faça parte da comissão de organização de uma
parada gay ou então entre pra algum dos partidos integrantes da
Frente Popular, preferencialmente o PT. Passe a freqüentar lugares freqüentados por Petistas, o
AFA – Bistrô da Amazônia e o
Piola são ótimas escolhas.
Com a finalidade de evitar que o texto se prolongue muito, vou postar os próximos mandamentos daqui a alguns dias. Boa semana, e como diria
Chris Martin, vocalista do
Coldplay,
Viva la Vida!